sábado, 1 de fevereiro de 2014

Eu vejo suas asas

OBSERVAÇÃO: Qualquer semelhança a realidade é puro desvario. Obrigada.

Rafael era um violeiro. Ele me lembrava um anjo, assim como sua voz. Seus cabelos eram claros e seus olhos serenos. Sim, tenho quase certeza, ele era um anjo. Certa vez, encontrei-o em baixo de uma árvore e de longe o ouvi tocar. Era um som tão maravilhoso que não contentei-me em escutar ao longe, logo fui fisgada por aquela melodia e escondi-me atrás de um arbusto. Ele parou de tocar, olhou para o chão e sorriu, logo percebi que ele tinha me visto. Ele olhou em minha direção e disse: eu sei que é você". Corei.
Aproxime-se, ele disse e continuou:

- Não sei se já disseram, mas você tem lindas asas sabia?
- Asas? disse eu.
- Uma vez me disseram que todos tem asas, asas que são invisíveis - disse Rafael ao sorrir para mim - asas são como a força do coração de uma pessoa, a coragem e assim por diante. O tamanho, a cor e a forma são diferentes.
 
Eu nunca havia imaginado daquela forma, pensei que asas eram coisas de histórias, ou simplesmente de algum livro como a Bíblia, mas depois de ouvir aquilo, eu sabia que elas existiam, por que Rafael as tinha. Me silenciei e ele prosseguiu.
- Todos tem asas. As suas são calorosas e bonitas.
Logo me adiantei dizendo: "Como são as suas asas Rafael? Elas devem ser muito grandes".
Erro meu foi perguntar, ou acerto, não sei. A resposta não era muito agradável.
Minha asa está quebrada - disse ele - Mas eu canto.
Na minha ingenuidade infantil eu disse: "Mas não doi?"
Ele riu, lembrando-se que além de compreensiva, eu era apenas uma criança de 12 anos. Voltou ao tom sério contou-me. "Doi as vezes, mas que eu prefiro não sentir, por isso eu canto.
A música era sua cura, ou pelo menos anestesia, já que era momentânea. E eu ouvia cada palavra atentamente.
O violeiro, parou e ficou a me observar e caindo em riso novamente disse: Não se preocupe, ficará tudo bem... Mas gostaria de pedir um favor a você, posso? Claro, disse eu.
 "Cuide de suas asas, por favor?"
Eu achava que estava ficando louca. Foi então que ele voltou a dedilhar e com aquele sol no rosto, fechou os olhos e voltou a sua música. E acrescentou, "cuide delas, por favor, não as quebre, nem deixe que ninguém roube a beleza que elas têm".
Eu fiz que sim com a cabeça, meio confusa. Mas hoje eu entendo.

Aquela foi a última vez que o vi.

(Baseado em Rafael, personagem fictício de Nadja).

4 comentários:

  1. Olá,minha querida Guigui.
    Meio clichê dizer isso,mas estou realmente sem palavras.
    Rafael tocou-me com essa gentileza e seus sentimentos. Asas... quem disse que não existem né ? Vou cuidar das minhas a partir de agora.
    Obrigada pelo texto.
    Beijos,continue assim: sempre dedicada e sentimental(em relação à escrita).

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