terça-feira, 1 de abril de 2014

Sorrisos (in)voluntários

Não, definitivamente não era. Eram turbilhões de gestos.  Pernas que tremiam, mas que continuavam com rapidez, que cambaleavam quando os caminhos se cruzavam.
Era um estômago que gritava de barriga cheia. Ele fazia barulhos. Eu sentia como se houvesse um tour dentro de mim. Talvez fossem borboletas. Até porque, havia momentos que eu parecia voar, mas não era eu. Talvez fossem elas.
Havia tamanha sincronização entre corpos. Um ímã, que se tornava mais forte a cada instante, constante. Que instantaneamente juntava olhares, gestos, sorrisos, casava-os perfeitamente sem que percebessem. Ou até dava a perceber, mas nenhum admitia.
Eram olhos fixos, não sei se meus ou os dele, mas encaravam com tamanha ternura, de modo a dizer mais que muita coisa, ou tudo.
Era um rosto visto no meio da noite, que roubava, o lugar, o sono, o ar. Rosto que continha o riso mais bobo e mais prazeroso de se ouvir. Era inocente. Contagioso. E me fazia ter sessões de sorrisos involuntários, gargalhadas profundas em mente, e gerava em mim perguntas que eu mesma mal sabia responder. Eu definitivamente não sabia o que era. A única coisa que (talvez) era certeza, era de que nada era vontade, tudo era indefinido, indevido, involuntário, incondicional. Definitivamente não, não era o que eu pensava, se é que pensava. Não definitivamente não era amor. Não, era amor.
 
 

sábado, 8 de março de 2014

Uma rosa em preto e branco.

Hoje é um dia que deveria ser como todos os outros, mas voltou-se para uma causa maior. Um dia que todos os outros poderiam também ser iguais. Dia em que a mulher é lembrada e valorizada. Junto com todos esses elogios anuais, percebe-se que a  mulher vem ganhando seu espaço de forma arrebatadora, saindo de sua casa, entrando em empresas, grandes negócios, o que a tornou autora de suas próprias decisões, diga-se até melhor, de sua própria vida.
 De coadjuvante, o papel da mulher passou a ser o principal. E convenhamos que, como o é dito todos os anos, foram necessários umas série de tragédias, para que alguma situação fosse mudada ou pelo menos houvesse alguma reação para valorizar o sexo feminino. Dai em diante tudo começou.

A mulher transfigurou-se a algo maior. De dona de casa, arrumadeira, rendeira, sem eira nem beira “botou-se a rebolar” e saiu do frio da água do tanque. Mostrou também que não era nada do que todos falavam, muito menos ao que era retratada em poesia.  Também não era um ser quente. Esperta como é, desfrutou de tamanha ignorância do homem entre os extremos de quente e frio. Mostrou que era morna e que isso era bom. Nem quente muito menos fria, ela arregaçava qualquer manga e qualquer cara de quem ousasse passar em seu caminho e sonhos, “e ai” se metesse o bedelho em seu trabalho. Mediante a situação, transpôs-se também em uma figura bela e com vigor. Criatura que não tinha mais dono, que ainda tinha um pouco do romantismo em sua natureza, mas feita de carne e osso, era também realista.

Independente era das relações. E como era. Da mesma forma que a vida lhe expunha perigos, o homem também era motivo deles. Ele lhe deixava marcas roxas de amor e ódio, e desde então, a mulher escolhia se ficava só, se precisava de um homem ou até mesmo de outra mulher. Ela soube que além da beleza, tinha em si o poder nas mãos. Antes da casa, depois das compras, da sala, do laboratório, do convento e a tal extremo, da assembleia nacional. Tinha a lábia da conquista, a ausência dela quando necessária à situação e o exagero quando muitas vezes não se precisava, mas fosse o que fosse o truque era certeiro. E "aaah" sua sensualidade, muitas vezes não precisava de uma mísera palavra para conseguir o que queria. Ahh a mulher, doce mulher...

Para estas deixo uma rosa em preto e branco,
 porque lhes dou o direito de colori-las como bem entender,
 assim como quero que façam com suas vidas.
Feliz dia da mulher!



sábado, 1 de março de 2014

Não olhe para trás


Hoje não acordei só com os olhos molhadas, mas a alma também. 
Tudo começou, em um sonho. Eu passeava por um jardim de infinitas flores, de tons verde, violeta e amarelo-sol. Fascinada com o lugar, decidi pegar uma flor para ver se era real, logo, a vi se transformar em cinzas diante dos meus olhos, e se não bastava, tudo que eu tocava se acinzentava como aquelas pétalas. Era um processo contínuo. Decidi por olhar para trás. E o fato era que eu via somente escuridão. E eu corria, gritando a mim mesma "não olhe, não olhe para trás", aquilo tudo era horrível demais para ser visto. Corri. Até que fiquei sem forças e vi tudo tornar-se negro, eu mal me via mais. Gritei. Tudo em vão, por que eu não ouvia minha própria voz. Nem se quer a minha respiração ou as batidas do meu coração eram perceptíveis. Nenhum ruído se quer. Entrei em desespero e chorava, porém as lágrimas não saíam. Mas ao fundo, eu ouvia barulhos, que pareciam cada vez mais altos, até que estrondaram, eram gritos, que vinham de dentro de mim, era o desespero do que eu pude chamar de alma, ela pedia socorro. E eu nunca sentia tanta angústia como senti.
Me vinham a memória sentimentos dos quais não me recordava a tempos, lembranças que haviam sido trancadas, colocadas em um baú e por fim, enterradas. Aquilo passava em minha mente e eu queria fugir, agora não mais daquele lugar, mas de tudo aquilo que se passava na minha cabeça, pois parecia pior do que tudo. Doía demais. Mais do que qualquer dor corporal, eu sentia na alma e aquilo não cicatrizava, a dor só se tornava infinitamente maior a cada instante. Após aquele retorno de imagens antigas, eu apenas repetia a mim mesma: "Você não merece. Você não merece". Não que eu não merecesse aquele sofrimento, eu merecia e não negava isso. O que eu não merecia era viver. Eu não dei o valor merecido ao dom de codinome vida, muito menos valor a tudo que a complementava, como as pessoas a minha volta. A minha alma pedia socorro e eu estava farta de tudo aquilo que me enchia, mas não me preenchia de maneira alguma. Era um de vazio enorme que me inundava a cada instante e que me tirava as forças de ficar de pé. Vazio este, que me fez procurar todos os outros amores, todas as outras coisas que estavam no mundo, sendo que tudo que eu precisava estava aqui.
 Se eu necessitava de amor, não era de ninguém. De atenção, não era de ninguém. Por que ninguém mais saberia e me entenderia melhor da forma que eu precisava. Nada parecia ser o bastante. Eu me via como um quebra-cabeça cujo as peças não se encaixavam corretamente e de nenhuma forma iriam se encaixar. Eu demorei para entender isto e agora creio que seja tarde demais. Vejo que colocava todas as minhas esperanças, todo o meu amor em outras pessoas, em outras situações e isso esgotava-me a ponto de não sobrar nada para mim. E eu errei, eu sei. E por isso devo desculpas a pessoa que eu mais deveria ter amado, respeitado, a pessoa que sofreu mais do que ninguém com todas as mudanças que aconteceram, a quem eu afetava diretamente com todas as minhas escolhas erradas. Eu mesma. 
Logo percebi, que aquilo era uma viagem dentro de mim mesma, que toda a escuridão que me rondava, era apenas o que eu guardava dentro do meu coração. Percebi que todo aquele jardim era a beleza que eu guardava em mim, mas que com o tempo foi destruído pelas minhas próprias mãos. Eu mesma transformei tudo em cinzas, por que não cuidei, reguei e muito menos dei o devido carinho que o jardim do meu coração precisava. E agora que essa escuridão me rondava, vejo que todos os meus sentimentos aumentavam e se confundiam, não sabia se sentia ódio, rancor, a única certeza era o meu desespero. O meu grito se tornava silêncio, o meu choro se entalava ao passar em minha garganta. Todos os sentimentos se prendiam dentro dessa armadura que chamo de corpo e então eu me perguntava "Por quê?", "Por que eu estou aqui?". Eu não aguentava mais! Eu estava farta, me sentia presa em um casulo, sem possibilidade alguma de me tornar borboleta.
Ao tentar silenciar tudo que fazia barulho dentro de mim, vi em meio aquela escuridão que apareceram duas coisas que brilhavam muito. Fui ao encontro delas. A primeira delas era um espelho, que por incrível que pareça me refletia mesmo no escuro e não era uma imagem muito bonita. Eu não via mais um semblante, muito menos um sorriso. Me sentia anos mais velha, se formavam bolsos embaixo de meus olhos. Eu não conseguia suportar nem mais cinco minutos olhando aquela imagem, era dor demais.
 Eu tinha esperança de que o outro brilho que eu via perto de meus pés, fosse algum tipo de chave, que me levasse a algum lugar. Tudo bem que ali não tinha porta alguma, mas poderia acontecer de eu encontrá-la, já que eu acreditava em Deus, eu esperava que ele fizesse algo impossível no momento, mas eu sabia que não merecia. Agachei-me. Aquela coisa machucou-me, era uma faca. E em meio aquele sentimentos, aquele instrumento me parecia tentador. Aquilo poderia ser a chave que eu tinha, por que seja lá o que acontecesse, talvez eu estivesse em um lugar melhor depois daquilo. Eu rezei. E minhas lágrimas voltavam e saíam como um choro de um bebê que acabavam de nascer, tão profundo, como se eu carregasse toda a dor do mundo nos ombros, mas era só a minha. Vinham lágrimas e eu tremia. Aquele objeto em minha mão forçava contra o meu peito e de repente, caí em mim e eu lutava contra aquilo, eu pedia que tudo acabasse, mas não daquela forma. Eu pedia sentimentos bons, eu pedia luz, pedia que se fosse o momento de morrer, que não fosse pelas minhas próprias mãos. Eu pedia socorro ao céus, mesmo que não existisse, eu queria acreditar. E acima de tudo acreditar que haveria algo bom para mim. Mas a dor me venceu, a arma se chocou contra o meu peito de tal forma, que me atravessou. Mas não doeu. E eu via luz. E aquela luz saia de dentro de mim, saiam raios de onde deveria sair sangue, e só aumentava cada vez mais. 
Não havia mais jardim, flores, sol, não havia mais nada, não havia escuridão. O brilho era tão forte, revigorante que eu sentia cada peça daquele quebra cabeça se misturando e se reencaixando, até que a última peça fosse encontrada. Eu sentia todas as forças do meu corpo voltando. O meu peito inflamava. Todos os meus sentidos foram recobrados e logo percebi que estava de olhos fechados em um lugar macio. Aquela luz se focou no centro de minha visão até que abri os olhos e me vi dentro de um quarto, que por sinal era o meu. Eu respirava fundo e não podia acreditar que havia sido um sonho. Era tão real, tão doloroso, tão desesperador, por que tudo que eu vivi durante o sonho era a maior realidade da minha existência, era tudo que eu guardava no mais profundo do meu ser. Mas agora, eu não sentia mais nada. Aquela faca que havia transpassado o meu corpo, não havia me matado, mas sim tirado a vida de todos os meus medos e sentimentos de morte, nada mais me atormentava. E tudo que parecia fim me mostrou um novo começo, foi como se eu tivesse que viver tudo novamente para que a dor me curasse. E deu certo. Eu percebi que havia ganho a chance de ter o que era mais precioso, a coisa que nunca dei valor, a minha vida.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Si-Dó.

Então a música conseguiu ser tão perfeita que com a mesma intensidade que foi cantada, ela também foi sentida. E inflamou. Inflou o coração de tal forma que nem se quer cabível se tornou o sentimento que ela havia trago. E da mesma forma que ela trouxe palavras tão distintas, moveu pessoas, sentimentos, criou caminhos, trechos de rodovias que em um provável dia se cruzariam.
E que por vias duplas, hoje fez caminhar notas duplas, de dois pés cada. Que vão em cada linha do meu caderno de brochura, e que por improviso, fizeram um soneto, mais tarde uma música, ambos de amor. Notas que formaram a escala que levava a algum lugar, e certamente não sei onde era. E porquanto não quero saber.
E mesmo que na subida dos degraus dessa escala, esses pés doam, eles se doam, acima de tudo. Passaram de Dó à Fé (com som de Fá). Até que chegam ao Sol, já que ele não havia se posto sustenido a vista.
Seguiram o caminho de tablaturas numéricas, tão confusas quanto suas infinitas dúvidas, quanto aos sentimentos e ao que eram. Seguiram um caminho de teclas amareladas, com acidentes pelo caminho. Percorreram estradas e trilhos de puro aço e nylon, com sopros de vento 'flautíveis', ouvíveis que começavam não sei onde e levavam sabe Lá a que. E seguiam, com a única certeza de que depois do duro caminho, um era do outro. Sem interferência, sem acidentes ou problemas, juntos. O que bastava. E que em poucos passos Si foram, ao arpejo perfeito.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Poema do vazio.

Tu chegas sem aviso, sem hora nem lugar,
me inunda e me deixa um vazio
Me sinto fraco, mal posso explicar.

Tu me preenches, mas ao mesmo tempo me incompleta
me deixa frio, ranzinza, ninguém me tolera.

De manhã, a tarde e a noite, permanece aqui
mas tua presença me confunde, como podes existir?

Talvez tu não mereças o que escrevo por ti.
mas sem ti, talvez morto estivesse aqui.

Depois deste (des)afeto, devo dizer seu nome
para ti fiz este poema, minha querida fome.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Meia carta de rebeldia

Acho que se tivesse contado isso antes, o mundo me acharia idiota, se não achou desde sempre.
Eu tinha apenas dezessete anos. Havia dado 6h45 e minha malas já estavam prontas. Sete horas saí. Talvez não fosse o melhor dia para uma viagem, ainda mais quando esta, era sem rumo. Mas saí, até por que aquela hora ninguém ouviria o barulho do portão.
Coloquei no carro uma mala,  uma bolsa de lado, no bolso de fora da mala levei uma cartela de cigarro, alguns chicletes e um velho mapa da cidade, no compartimento do lado havia uma carteira de identidade falsa, que eu havia feito há uns 2 anos atrás, que pela minhas contas, a partir da minha saída, eu passaria a ter 20 anos completos. E não havia nada para desconfiar, até porque meu cabelo tom verde musgo, e minhas três tatuagens me faziam parecer pouco mais velha do que eu era, como um tipo de adulta que se achava "a adolescente", quando era o contrário. Ótimo.
Já que minha vida dali em diante seria diferente, precisei agir como tal. Parando no posto de gasolina, abasteci. Rapidamente fui ao porta malas e peguei meu salto, que por sinal deveria ter uns 15 centímetros. Cambaleei. Mas de que importava meus passos adiante de salto, porque não doeria mesmo. Todos os passos que eu já havia dado em minha vida, eu deixava dor, então um mindinho apertado não faria muita diferença. Então cicatrizei-me.
Na beira da estrada, senti que o sol escaldava-me, rapidamente, arranquei aquela bendita calça e botei uma saia. Precisava de ar. E veio. O vento soprava naquele dia, a brisa era boa e me dava forças para o resto do dia.
Durante o caminho, encontrei gente estranha, gente que recordava minha família, então lembrei que àquela altura minha mãe já tinha acordado há muito tempo, e ela deveria ter me matado em pensamentos. "Tudo bem", pensei, "ainda me restam seis vidas".
Passados dias de maus bocados, lembrei que havia guardado um segredo precioso (mentiras) que talvez eu fosse precisar. Logo lembrei-me também de alguém, era um garoto que tinha seus quase 18, entraria faculdade e como minha vó diria: "ele era um pão". Fofo demais (não o merecia). Até por isso, o troquei por um baterista de 21 anos.
[...]

 Havia enjoado da minha vida antiga, como enjoei desta baboseira de carta. Desculpem qualquer coisa. Outro dia termino, até porque preciso abastecer, não digo só o carro, mas meu bolso com mentiras e histórias. Você me encontra:

Em "um outro dia, um outro lugar"
 Localizado na zona de perigo de São Paulo.
 
ASSINADO: Para os conhecidos Ana Paula.
Agora, prazer,
Natacha.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

O calor me lembra gente chata.


 
Gente pegajosa, que abraça, aperta,
Que quer saber cada passo e respiro meu.
Gente que irrita da cabeça aos pés.
Que sabe o infortúnio que me tira a paz,
Gente que um dia eu amei e nem volta mais.
Gente que no calor me era sorvete
Mas que hoje passa longe de ser inverno
e faz calor feito inferno.
E inferniza, mas estabiliza(va), devo admitir.
Gente que não me lembra só calor, mas cheira a verão
e querendo ou não, era um cheiro bom.
Gente que como o calor atraía ferida de pernilongos,
Que trazia bichinhos de luz, na minha noite em claro.
Gente que me lembrava queimadura de 3º grau.
Que me lembra o abafado calor de São Paulo
Que como a cidade, é cinza, é quadrado,
tão chato, que nem quero lembrar..
E que como calor e sol, o escondi em inverno e nuvens.