quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Meia carta de rebeldia

Acho que se tivesse contado isso antes, o mundo me acharia idiota, se não achou desde sempre.
Eu tinha apenas dezessete anos. Havia dado 6h45 e minha malas já estavam prontas. Sete horas saí. Talvez não fosse o melhor dia para uma viagem, ainda mais quando esta, era sem rumo. Mas saí, até por que aquela hora ninguém ouviria o barulho do portão.
Coloquei no carro uma mala,  uma bolsa de lado, no bolso de fora da mala levei uma cartela de cigarro, alguns chicletes e um velho mapa da cidade, no compartimento do lado havia uma carteira de identidade falsa, que eu havia feito há uns 2 anos atrás, que pela minhas contas, a partir da minha saída, eu passaria a ter 20 anos completos. E não havia nada para desconfiar, até porque meu cabelo tom verde musgo, e minhas três tatuagens me faziam parecer pouco mais velha do que eu era, como um tipo de adulta que se achava "a adolescente", quando era o contrário. Ótimo.
Já que minha vida dali em diante seria diferente, precisei agir como tal. Parando no posto de gasolina, abasteci. Rapidamente fui ao porta malas e peguei meu salto, que por sinal deveria ter uns 15 centímetros. Cambaleei. Mas de que importava meus passos adiante de salto, porque não doeria mesmo. Todos os passos que eu já havia dado em minha vida, eu deixava dor, então um mindinho apertado não faria muita diferença. Então cicatrizei-me.
Na beira da estrada, senti que o sol escaldava-me, rapidamente, arranquei aquela bendita calça e botei uma saia. Precisava de ar. E veio. O vento soprava naquele dia, a brisa era boa e me dava forças para o resto do dia.
Durante o caminho, encontrei gente estranha, gente que recordava minha família, então lembrei que àquela altura minha mãe já tinha acordado há muito tempo, e ela deveria ter me matado em pensamentos. "Tudo bem", pensei, "ainda me restam seis vidas".
Passados dias de maus bocados, lembrei que havia guardado um segredo precioso (mentiras) que talvez eu fosse precisar. Logo lembrei-me também de alguém, era um garoto que tinha seus quase 18, entraria faculdade e como minha vó diria: "ele era um pão". Fofo demais (não o merecia). Até por isso, o troquei por um baterista de 21 anos.
[...]

 Havia enjoado da minha vida antiga, como enjoei desta baboseira de carta. Desculpem qualquer coisa. Outro dia termino, até porque preciso abastecer, não digo só o carro, mas meu bolso com mentiras e histórias. Você me encontra:

Em "um outro dia, um outro lugar"
 Localizado na zona de perigo de São Paulo.
 
ASSINADO: Para os conhecidos Ana Paula.
Agora, prazer,
Natacha.

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